“Eu só quero o que é melhor para a propriedade livre. Essas algemas são apenas uma formalidade”


Confiança não é coisa fácil entre os Perdidos. Sem dúvida, eles compartilham uma ligação, tendo vindo de um terrível lugar e não tendo nenhum outro ser no mundo, fora seus semelhantes, que possa compreendê-los. Eles também sabem que alguns dos horrores que viviam nos seus Guardiões agora vivem neles.

Muitos Changelings confiáveis aprenderam do jeito difícil que estas criaturas tendem a trapacear, enganar e mentir. Além disso, muitas vezes evidências surgem contra alguns Perdidos, apontando que ainda estão fazendo serviço para seus Guardiões sombrios, ou de bom grado ou no puxão de uma coleira. Frequentemente, os outros Perdidos descobrem tal evidência tarde demais - o dano foi feito, e o Povo Justo ganhou força.

Foi há apenas cem anos que surgiu um Changeling em São Paulo, Brasil, nomeando-se após o mítico matador de dragões, São Jorge. Este Changeling (que era de fato São Jorge, mas ele muitas vezes anglicizou seu nome) descobriu que duas das cortes locais estavam engajadas em relacionamentos de décadas com vários Feés Verdadeiros do outro lado da Sebe. Por muito tempo, esta aliança sinistra trabalhou contra os Perdidos ignorantes da propriedade livre que há na cidade - muitos desapareceram ao longo dos anos e estas ocorrências foram compreendidas como resultado dos erros e falhas das vítimas, quando na realidade eram vários membros da corte que trabalhavam contra a propriedade livre e para as Fadas. São Jorge - um humilde e despretensioso cervejeiro - reuniu uma série de outros Changelings para perseguir os que ainda estavam ligados ao Povo Justo, desbancando-os num golpe sangrento. São Jorge expôs todos eles e a lenda diz que ele até ajudou a destruir um dos tempestuosos Outros que invadiram a cidade para buscar vingança (imagens de São Jorge mostram ter uma mão ressecada pendurada ao seu lado em um cordão de couro, um troféu tirado do Fae morto).

O legado de São Jorge vive na forma de uma nobre ordem. A Cavalaria do Caçador de Dragões - ou Ordem dos Cavaleiros Matadores de Dragão - que é ativa até hoje, mas não necessariamente em uma capacidade militarista. Enquanto os membros devem ter alguma proeza marcial em seu crédito, o que eles realmente fazem é atuar como espiões, interrogadores e policiais. É seu trabalho chutar o tronco apodrecendo, ocasionalmente, para ver qual podridão está rastejando por baixo. Se o que foi exposto não puder ser tolerado, eles farão o que for necessário para o expor ou para finalizar a podridão ali mesmo. Se isto significa tortura, então isto significa tortura. Se isto significa ameaças contra os inocentes, então um deve suportar, não pelo bem individual, mas pelo bem maior. A Cavalaria é muito eficaz e fará o que for necessário para manter sua propriedade livre da traição.

Título: Fidalgo (Cavaleiro) - embora um apelido depreciativo seja o das “Cobras” (Serpente)

Pré-requisitos: Fado 2, Raciocínio + Autocontrole parada de dados de pelo menos seis dados, Intimidação 2

Associando-se: A Ordem aceita novos membros de braços abertos. Quanto mais membros têm a figura do cavaleiro, maior é a certeza da propriedade de esmagar qualquer traição. A Ordem "sabe" que seus membros estão todos do lado certo da cerca - os cavaleiros não precisam examinar outros cavaleiros, porque senão, qual é o objetivo? (Muitos sugerem que isso é apenas uma ilusão, e que os cavaleiros esperam manter escondidas quaisquer traições internas simplesmente não expondo-as em primeiro lugar - uma desagradável ironia, dadas suas supostas declarações de missão de descobrir vileza dentro da propriedade livre.) Certamente testam os novos Changelings. Os Caçadores de Dragão examinam cada pedaço da vida de um neófito. Peneira restos de sua vida mortal, olhando de perto a Duplo e dissipando os sonhos terríveis que encontra, para garantir que o Changeling ainda não abriga, secretamente, linhas de marionete escondidas que o conectam com seu Guardião. (De nada  vale a investigação se, uma vez que o Duplo seja examinado, não será permitido ao Cavaleiro neófito que ele fique vivo. O Duplo é apenas mais uma conexão com os Outros, então é melhor cortar a garganta do Duplo e deixar cair, em suas partes constituintes, caudas de macacos e ossos de pombo.)

Um fator interessante sobre novos membros é que, se os cavaleiros são capazes de extrair uma confissão de traição de um Changeling, eles podem oferecer ao traidor uma segunda vida dentro do grupo. Não é dado aos traidores um passe livre, claro. Mas, ao contrário de outros cavaleiros, traidores são escrutinados por muitos anos para garantir que as suas duplicidades sejam queimadas deles, e é permitido que eles evitem suas execuções. Muitos destes Changelings de “segunda chance” acabam sendo os membros mais zelosos da Cavalaria.

Mien: As mudanças causadas nos novos Changelings, por juntarem-se à Cavalaria do Caçador de Dragão, são sutis e, para alguns, quase imperceptível. A primeira mudança está nos olhos: as pupilas encolhem e o branco dos olhos torna-se grosseiro e sem sangue (aqueles que notam essa mudança em específico, não ficam livres ou conseguiriam jamais duvidar do assustador e imóvel olhar de um cavaleiro); a segunda mudança está na aparência de características dracônicas menores - algumas escamas pretas nas costas de uma mão, alguns dentes virados como agulhas curvas, uma língua dividida sutilmente na ponta como a de uma cobra, entre outras. Por que estas mudanças? A linha de raciocínio, da qual partem as explicações, é que o fundador da Ordem foi salpicado com o sangue do Feé Verdadeiro “Dragão” que ele destruiu e este sangue contaminou sua aparência com partes do semblante daquela fera hedionda. Outras, porém, sugerem que é um sinal da corrupção dentro do próprio coração da ordem - um calo e inclinação reptiliana.

Antecedentes: A Cavalaria do Caçador de Dragões valoriza muitos tipos de talentos, mas está particularmente interessada naqueles de olhos e mentes afiadas (isto é, aqueles com mais-do-que-acima-da-média nas suas pontuações mentais - além é claro de uma alta Percepção). A razão é que, de acordo com as doutrinas mais básicas da ordem, o cavaleiro deve ter a capacidade de detectar subversão antes que ela se manifeste. Consequentemente, ele acaba apenas tentando adivinhar o potencial para subversão (o que muitos Changelings temem ser apenas uma postura reacionária).

É claro que o cavaleiro também deve ter habilidades para extrair informação e confissões de subversão. Tortura é “desaprovada”, mas é aceitada como uma necessidade (novamente, a ideia de “bem maior” enche sua cabeça e um inocente deve sofrer para que as massas sejam protegidas). Isto pode significar fortes atributos físicos e sociais e Habilidades que possam funcionar em conjunto. (Por exemplo: Força e Intimidação em conjunto para extrair informação pelo meio da dor física.)

Organização: Estranhamente, a ordem não se entrega à liderança central. A ordem simplesmente obedece aos princípios estabelecidos no revistas de São Jorge, e além disso, os cavaleiros são quase sem leme em sua autoridade. Eles podem fazer o que quiserem desde que se esforcem para expor o engano e desigualdade dentro da propriedade livre. Se alguma vez há divergências entre cavaleiros, que não podem ser mediadas com palavras, então um duelo é por vezes necessário. Duas rapieiras, duas pistolas ou um boxe, qualquer tipo de duelo funciona, desde que ambos os participantes possam concordar (e, se não puderem, alguém escolherá para eles). A morte não é a consequência pretendida em um duelo, apenas dominância do ponto de vista de alguém. 

A Cavalaria tem um ponto central de encontro que chamam de Torre, onde cavaleiros se reúnem para comer, beber e às vezes dormir - e extrair informação de outro Perdido. Enquanto a Torre geralmente tem a atmosfera caseira de um quartel (com camaradagem semelhante entre os presentes), também tem um lado separado onde há cômodos e celas onde os traidores são mantidos e torturados.

De muitas maneiras, ser um Caçador de Dragão é um trabalho em tempo integral, embora o grupo também encoraje seus nobres cavaleiros a encontrar trabalho no mundo mortal que vai ajudá-los a fazer o seu trabalho dentro da Cavalaria. 

Curiosamente, muitos membros da Cavalaria são devotos católicos. Eles não permitem dissonância entre o mundo dos Perdidos e as doutrinas da Igreja. Deus é ainda Todo-Poderoso, e é preciso confessar seus pecados a um padre para ganhar entrada no céu. Muitos acreditam que O Feérico e a Sebe são claramente o Inferno e escapar daquele lugar foi semelhante a se contorcer livre do domínio de Lúcifer. Aqueles que ousam ainda lidar com o Feé Verdadeiro são na verdade aqueles que ousam jantar com diabos e dragões.

Conceitos: Fiador, policial federal, instrutor de esgrima, interrogador do governo, freira, bandido de favela reformado, vendedor de rua que vê tudo.

Privilégios

Abaixo está uma fichadisponível apenas para aqueles cavaleiros ou cavaleiros do Caçador de Dragões.

A Grande Cruz de São Jorge

Muitos cavaleiros da ordem usam um tipo de cruz - adornada com gemas, sementes, pedaços de vidro e outros detritos encontrados na Sebe - como um distintivo pendurado ao redor do pescoço, ou simplesmente alfinetada em uma jaqueta ou camisa. É dito que quando ativa e pressionada contra a pele de alguém, a cruz é capaz de sentir o pecado que há no interior do coração desta pessoa. A cruz queima a pele de acordo com a pontuação de Moralidade da pessoa (ou equivalente, seja Lucidez, Harmonia, Humanidade ou Sabedoria), caso seja 5 ou menor. Para cada ponto abaixo de 5, a cruz causa um de dano letal. (Moralidade 5 causa 1 de dano letal, Moralidade 4 causa 2, Moralidade 3 causa 3 e assim por diante até um máximo de 5 de dano letal). Além disso, mesmo que seja possível se curar do dano causado, a cruz deixa uma marca permanente, em seu formato, de queimadura na pele. Se pressionada contra a pele de alguém com Moralidade 6 ou superior, a cruz não tem nenhum efeito (exceto o de dizer a quem a empunha que talvez a pessoa não seja o pecador a quem ele procura). Esta ação é instantânea.

Ação: Instantâneo

Mien: A cruz tem uma aparência feia, mal cuidada, com pedras mal acabadas e detalhes em vidro ainda meio pontiagudos. Entretanto, quando ativada, emite uma forte luz que se torna multicolorida ao brilhar através das pedras multifacetadas e pedaços de vidro. Quando pressionada contra a pele de um pecador, a cruz ferve e zune.

Desvantagem: Se usado contra um alvo com Moralidade (ou equivalente) 6 ou 7, o cavaleiro vai se sentir tonto e fatigado pelo resto da cena, além de receber uma penalidade  -1 em todas suas rolagens. Se o alvo tiver Moralidade de 8 ou 9, a penalidade aumenta para -2, e se a Moralidade do alvo for 10, a penalidade salta para perigosos -5 (penitência, aparentemente, por testar a fé daquele que é claramente sacrossanto).

Pegadinha: A cruz pode queimar tanto a mão do usuário quanto a do pecador em potencial, mas ao ser curado não deixa uma marca.

Rumores dos Matadores de Dragões

Boatos circulam sobre a Cavalaria do Caçador de Dragão, e os personagens podem encontrar tais histórias durante o desenrolar da história:

• É dito que a Cavalaria tem uma grande Construção na Sebe - uma grande Torre com tijolos cor-de-sangue amontoados com vinhas que mordem. Não apenas como um lugar importante de encontro para os nobres Cavaleiros, mas também é dito que há um labirinto-prisão embaixo dela, lar de muitos Perdidos dados como desaparecidos.

• Alguns changeling sussurram que o maior inimigo da Cavalaria é um Guardião que eles acreditam ser o próprio Diabo. Lucifer viveria dentro do coração dos Espinhos, debaixo de um lugar no horizonte, onde seria possível ver apenas uma fixa tempestade.


• E, com certeza, o maior dos rumores é que a Cavalaria diz caçar a corrupção para mudar o foco de suas próprias maquinações traiçoeiras. Estas maquinações formam uma lista de possíveis traições: eles cuidam e servem algum Soberano Feé Verdadeiro; eles querem secretamente controlar todas as cortes e para isso eles removem qualquer um no seu caminho; eles fizeram tantos tratos e promessas sombrias ao longos dos anos e em breve está chegando a hora sombria de ser paga a dívida; e etc. Um dos mais assustadores destes rumores para alguns, entretanto, é que eles não são corruptos de maneira alguma, e sim, encontraram uma maneira de superar a insanidade que foi passar pelo que passaram e a perda de sua Lucidez em forma de tortura e assassinato.

Referencia

Changeling the Lost - Winter Masques, p. 149 - 151





NOTA PARA JOGADORES DO SONHAR


Bem, chegamos na parte em que eu estou aqui, meus queridos amigos. Sim, eu, Einthor, o Sátiro mais querido de vocês e que já encontrou esses Perdidos por aí, mesmo vocês insistindo que isso é tudo um jogo e, pior aindacenários diferentes. Ugh! Vocês não sabem de nada mesmo né? Pois bem.

Se vocês quiserem saber como fazer a Ordem dos Cavaleiros Matadores de Dragão  (caramba, que nome grande!) no ”Changeling, o Sonhar”, o belo, esbelto e humilde Einthor tem sugestões e dicas para vocês, retiradas de um compêndio que eu peguei...emprestado enquanto fazia uma visita a uma biblioteca dos Liam.

Primeiro Caso: Ordem como força militar de um ou mais reinos.

A utilização da Ordem como uma espécie de S.W.A.T (ou B.O.P.E, né? Afinal de contas eles são tupiniquins), na qual os nobres teriam acesso para situações de risco a existência ou bem estar dos Kithain no geral. Os cavaleiros podem ou não obedecer diretamente a um Alto-Rei ou às limitações hierárquicas que você desejar montar. Ou seja, seriam especialistas para serem enviados pelo mundo para lidar com Quimeras poderosas, casos especiais e, é claro, Dragões.

Para tal, os pré-requisitos de Artes poderiam ser:

   Andanças 1 ou superior: afinal de contas, é só você saltar entre os prédios e se pendurar na maldita besta alada não é? Ou você pensa que todas as fadas voam?

     Contrato: esta é a arte que mais combina, em todos seus níveis, com a ideia da Ordem. Porém, a Cavalaria exigiria um maior nível nesta arte que em outras.

Segundo caso: Inimigos

O quão interessante seria a uma campanha uma ordem de cavaleiros sombrios, montados em pequenos dragões, com uma cruz cristã que queima o seu glamour ou lhe dá banalidade? Assustador, né? Pois é.
Para este caso, a configuração da Ordem pode variar para instalar o horror com maior maestria (caramba, que palavra gostosa, “maestria”... Seu camarada Einthor tem estudo, sabia?).

A Cruz de São Jorge

Independentemente de seguir sugestão ou sua própria adaptação, a cruz é um fator chave da Ordem. Essas são minhas dicas:

    Primeiro caso: Um tesouro que queima o Glamour do alvo,  gastando seus pontos temporários durante curta exposição e podendo destruir até seus pontos permanentes. Causa 1d10 de dano letal por turno e queima 1 ponto de glamour temporário por turno. Caso o cavaleiro faça o uso de seu próprio Glamour, ele pode queimar Glamour permanentemente do alvo, porém sob o risco de ganhar Pesadelo ou até Banalidade, pelo uso exagerado da força.

      Segundo caso: Mesmo caso do Anterior, porém queimando sua Banalidade.

por Arthur Virginio