Devaneios do Netão: A Tragédia em Lobisomem o Apocalipse


Talvez a geração de hoje nem saiba, mas houve uma época (a décadas atrás) em que existiam “facções” de jogadores de RPG. Basicamente, existia a galera da fantasia medieval (D&D e afins) e o pessoal do horror pessoal (Storyteller)


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Era clássica a frase “Vampiro: A Máscara é um jogo de horror pessoal, não essa brincadeira de crianças com espadas e dragões”. Mesmo que a pessoa que falava isso não tinha a menor ideia do que era horror pessoal.

 Bons tempos (sqn).

Com a chegada do "Lobsomem, o Apocalipse", um novo tipo de horror apareceu, o “horror selvagem”, como está escrito na apresentação do livro. 

Horror selvagem...  Em todos os livros que li, histórias, personagens, etc, a impressão que passaram foi de um jogo heroico, épico e dinâmico, com bastante selvageria e instintos primais, sangue e ossos. Eu nunca vi um jogo (não quero dizer que não exista, eu apenas nunca vi) onde o personagem tivesse medo do que pudesse fazer ou o estrago que poderia causar (talvez em poucos momentos de fúria, mas beeeeem esparsos). 

O único tipo de medo que era frequente nessas histórias era o medo do fracasso. Um medo tão grande que, não eram raras às vezes em que os personagens se sacrificarem pelo sucesso da missão. Por aquele pequeno e breve sucesso.

Heróis. Valentia. Sacrifício. 

Mas não medo. Isso nunca encaixou na visão de horror que o livro (talvez) quisesse passar. Não, esse tipo de história, de busca, heroísmo e sacrifício, possui um outro nome: tragédia. 

Quando eu digo tragédia, eu me refiro ao sentido grego da palavra (quem quiser ler mais a respeito, tem esse link). 

Vejamos: 

* O personagem tem um impulso forte para fazer algo, conduzido pelas suas crenças e pela sociedade para lutar por algo; * Existe uma profecia que diz que toda a luta será carregada de sofrimento, culminando em uma falha; 

* O personagem, apesar de todo o mundo contra, contínua bravamente seguindo em frente. Vence lutas secundárias, faz seu nome e é considerado um herói; * Ao final, mesmo com toda a luta, todo sangue e sacrifício, o herói tomba frente ao desafio final (as vezes, seus atos até impulsionam o final trágico); 

Todas as vezes que eu pensava nos jogos (histórias, personagens, etc) sempre me vinha à mente: ao final, os personagens vão conseguir o que querem? Quem irá morrer para que eles consigam o que querem ? O que eles vão sacrificar ? 

Agora me digam, onde está o horror em tudo isso ?? Apesar de parecer cruel, é exatamente esse aspecto do Lobisomem: o Apocalipse que sempre mais me atraiu, a coragem e valentia de enfrentar o inevitável, batalhar e seguir em frente, apesar dos pesares. Lutar até as últimas forças e consequências... 

Me pergunto se talvez seja por isso que o pior de todos os males da caixa de pandora seja a esperança.

PS: Obrigado à Mariana, do antigo grupo de emails pelos insight e ótimas idéias sobre tragédia e o Loa.

1 Comentários

  1. De fato, na maioria das mesas de Lobisomem não há horror selvagem. Na verdade, parece mais que os lobisomens são os carrascos de monstros de filmes de terror B.
    Confesso que eu adoro.

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