Para quem está ambientado com o Guia do Sabá 3ª Edição ou The Black Hand: A Guide to the Tal' Mahe’Ra, não é novidade que as técnicas Sabá vão muito além de pancadaria gratuita e torturas sem precedentes. Além disso, a alta cúpula e seus representantes hierárquicos têm se mostrado competentes e pacientes na aquisição de território e novos cainitas para a causa. Ser um líder Sabá é como jogar xadrez, requer além de habilidade, estratégia. Engana-se quem pensa que a principal prática do Sabá se resume aos cercos contra cidades da Camarilla. A partir de agora você terá o modus operandi de uma das técnicas mais controversas, incríveis e ao mesmo tempo tão pouco explorada no guia do Sabá 3ª edição. – Os Manchu.
A grandeza dos rituais e a especialização de disciplinas, proporciona ao Sabá infiltrações de êxito e a manutenção de grupos de espionagem. Amparados pela exclusividade da Vaulderie, eles garantem não só o retorno do espião, mas também sua lealdade. Conforme dito anteriormente, engana-se quem resume as práticas da seita aos cercos, sangria e fanatismo. Não quer dizer que isso não ocorra em larga escala, entretanto sem as elites de infiltração em território inimigo, perderia-se inúmeros cainitas e as missões falhariam.
A ELITE DA ESPIONAGEM SABÁ
Manchu, esse termo peculiar pode parecer completamente intrínseco para você, caro leitor. Já para os leitores curiosos e adeptos de teorias conspiratórias ou clássicos do cinema mundial, provavelmente já se depararam com esse termo no filme de 1962, The Manchurian Candidate, de John Frankenheimer. Não foi à toa que o Sabá apelidou seus agentes especiais de Manchu. A técnica, controversa, a grosso modo seria uma espécie de lavagem cerebral, onde o indivíduo ao passar por esse processo, prestaria serviços de espionagem e/ou assassinatos sob encomenda. Os cainitas do Sabá além de fanáticos, são geniosos, perspicazes e criativos. Fazem o que podem, com os artifícios que possuem, tudo em nome da Seita. Vatos e Chicas que almejam fama e reconhecimento, além de notoriamente ousados, são candidatos perfeitos para passarem pela reprogramação.
Vamos aos conceitos: O Manchu é um cainita espião, cujas memórias e personalidade são reconstruídas por um programador que detenha altos níveis de Dominação. Alguns programadores, munidos de imensurável controle da disciplina, além de reconstruírem a persona do Manchu, dificulta as ações de possíveis intrusos também dominadores ou auspiciosos. Impedindo-os de penetrar as camadas das falsas memórias implantadas ou até mesmo desfazerem o esquema psicológico. Os agentes Manchu são considerados disfarces perfeitos, pois agem inconscientes de suas ligações com o Sabá. Comandos, geralmente pós hipnóticos e até mesmo uso de Taumaturgia ou outras disciplinas do programador, garantem relatórios periódicos e a verdadeira lealdade por parte do Manchu.
MAS E A VAULDERIE?
Boa pergunta, recruta...
Os agentes infiltrados sem o ritual da Vaulderie ou com seus Vinculum enfraquecidos, se vêem em crises existenciais e questionando os métodos da Seita. A primeira e mais lógica solução seria garantir que o cainita conseguisse participar da Vaulderie em reuniões furtivas com seu bando. Mas isso é extremamente perigoso e pode colocar o plano todo por água abaixo. Alguns agentes aprendem a Vaulderie e recebem amostras de sangue para que eles consigam manter seus Vinculum. Essa não é a solução mais adequada, afinal o cainita pode simplesmente optar por não realizar o ritual ou não saber fazê-lo com precisão.
Nada obsta que os membros da Espada de Caim possam utilizar o Laço de Sangue nesses casos extremos. Porém, é desaconselhável. Primeiramente porque o Sabá abomina essa prática. Segundo, que há a possibilidade de detecção através da Taumaturgia. Infelizmente, às vezes não restam opções viáveis e o Sabá tem de recorrer ao subterfúgio do Laço de Sangue. De qualquer forma, quando o Manchu retornar, terá esse laço quebrado através da Vaulderie.
CONHECENDO UM PROGRAMADOR
Aproximem-se jovens, não gosto de falar alto.
Antes de mais nada, como acham que cheguei a posição de Cardeal do Sabá? Apenas conquistando vitórias em cruzadas?
Não é para responder filho, foi uma pergunta retórica...
O momento da invasão aos refúgios e retirada das peças do inimigo é a parte mais fácil de uma Cruzada, esse momento só foi possível porque antes desvendamos os segredos dos membros da Camarilla, descobrimos como funciona sua hierarquia, quem é importante, quem parece que é e quem é descartável. Para um cerco obter êxito é imprescindível que os batedores tenham sucesso e o Manchu é o método mais eficaz de espião acima de suspeitas. Eles interpretam papéis e não estão cientes de sua condição. A informação é a chave de qualquer empreendimento, quem vence as guerras são aqueles que a planejam, falhar nesta hora significa o fracasso.
Vou contar a vocês como dou forma ao espião perfeito. Vou usar como exemplo Kim Carter, bem esse não é o nome verdadeiro dela, mas me acostumei assim. Quem ela foi me é querido, cria em minha linhagem, mas causava problemas demais então não a trouxe de volta. Precisava para este fim alguém que aceitasse sua condição de coração e ela queria isso.
Assim como vocês Filhos.
Tive o anseio de descobrir o que se passava nos bastidores de uma cidade da Camarilla, batedores conscientes eram pegos, quando haviam suspeitas a investigação acabava por remover o espião do jogo. Comecei a trabalhar na mente da cria amada. Se tornaria um Manchu. É de suma importância que o candidato esteja plenamente em acordo com sua nova condição, é necessário alguém com uma personalidade forte e grande presença de espírito para que futuros dominadores ou telepatas tenham dificuldade em acessar a mente programada ou suspeitem caso uma mente sem barreiras pareça ter algo a mais além daquilo que possam descobrir. Fortes convicções são essenciais para o Manchu.
Pode chegar o momento em que as personas entrem em conflito e o Membro do Sabá precisa prevalecer frente a personalidade criada por mim. Níveis altos de Demência na qual tenho pleno entendimento, pode funcionar em alguém que não seja o ideal, é possível moldar a natureza de alguém e assim tornar muitos em candidatos potenciais. Tendo encontrado alguém com verdadeira disposição e com a personalidade ideal, inicio o processo de criação do Manchu.
Determinar o personagem a ser programado é o momento cirúrgico, posicionar as peças de maneira equivocada em território inimigo pode tornar o espião infrutífero. Ele precisa ter a oportunidade de conhecer as pessoas certas, demonstrar qualidades, se inserir numa sociedade sendo ele mesmo, um novo ser no mundo vampírico sem consciência de sua verdadeira missão. Os Anciões da Camarilla possuem muitos meios de descobrir tudo sobre um novo membro, especialmente os Tremere. Não deixar rastros envolve escolher alguém que já existe, que tenha uma vida e talvez uma breve não vida. Alguém que deveria e estava ali.
São sempre poucas opções, neste momento de escolha passo até anos decidindo qual vai ser o personagem escolhido. Observo todas as possibilidades e variáveis do que o futuro pode me mostrar, os Olhos do Caos sempre me guiam nesta hora.
Tenho um segredo a contar, algo que facilita meu trabalho e que poucos podem fazê-lo, que me torna um especialista na criação e manutenção de Manchu. Possuo Sangue Malkaviano, além de passar séculos aprimorando Dominação de mentes também transcendi meus sentidos e uso de Clarividência para acompanhar os candidatos e futuramente o Manchu. Enquanto no momento da escolha descubro absolutamente tudo que preciso para decidir qual vai ser a personagem.
Escolhi Kim Carter para ser minha filha de sangue, tinha sido abraçada por um lunático da Camarilla que obtinha favores pra mantê-la viva. Um renomado Priscus Tzimisce fez uma obra de arte moldando as aparências. Tudo estava lá. Olhando nos olhos da minha nova filha moldei sua mente, criei pra ela um passado e impressões, maneirismos, vontades e ambições. A maioria chama de Ordenar Esquecimento, eu não gosto de como o chamam. Apenas um dominador de maior habilidade ou alguém dotado da poderosa Visão Cármica pode detectar na mente do Manchu seus planos reais. Não há muitos capazes disso, sobretudo nas Américas e não permiti que estivessem perto de alguém com tal poder.
Quando Madame Guil esteve em Los Angeles recuei com Kim Carter. Os acontecimentos levariam uma a outra, eu previa. Não podia arriscar, em outro momento conto melhor como aconteceu. Minha filha viveu como Kim e ascendeu em sua sociedade, descobri tudo que precisava sobre a Camarilla que caiu nas mãos dos Vampiros do Oriente e Barões Anarquistas. Em momento inesperado nosso cerco teve que ser adiado e criei um Manchu para Kim Carter que procurou o Sabá sem nunca saber que passava informações para mim através de gatilhos pós hipnóticos. Nem sempre eu podia acompanhá-la, então quando algo substancial precisava ser informado ela ia a um telefone e mandava a mensagem para um número que lembrava naquela hora, falava o que devia e esquecia.
No Sabá, nos conhecemos novamente e Kim Carter se entregou ao processo de Manchu para se infiltrar entre os Anarquistas de Sacramento, que possuíam laços estreitos com Barões Angelinos. Kim Carter possuía uma raiva e vontade de vingança que sobrepujava a personalidade de minha filha dentro dela e isso se mostrou muito satisfatório. Kim assumiu a persona de Allegra Coleman, mortal recém abraçada nos Estados Livres. Allegra era religiosa, então usando do artifício que ela possuía como Malkaviana, quando ela alucinava enquanto conversava com Deus, pude muitas vezes guiá-la a distância e nos momentos em que estava sozinha, conseguia instrui-la com Clarividência como uma espécie de Mentor Incorpóreo que de fato era.
No seio das lideranças do Movimentos dos Estados Livres, a extrema beleza de Allegra e seu magnetismo pessoal atraiu os membros certos e posteriormente a levou a conquistar o mesmo em Los Angeles e com suas informações pudemos executar a Cruzada a Los Angeles , obter sucessos reais e entrar para não sair mais. Mesmo com tão poderosos grupos sobrenaturais. Existem outros programadores, principalmente entre os Lasombra, todavia o auxílio do Auspícios elevado e Demência possibilita algo...magnífico.
Faça sua pergunta, filho.
Não, usar Convocação não funciona para deflagrar o Manchu, se existisse esse tipo de falha eu nem entraria no jogo. Para usar esta qualidade de presença é necessário que se conheça a pessoa e não foi falado que a persona é totalmente reconstruída? Lamento ter que me ausentar neste momento de conversa tão interessante, pensem e tragam suas dúvidas, Dior estará aqui para vocês sempre. Na próxima oportunidade contarei como amigos Reverendíssimos Senhores Lazarentos e Demônios fazem seus próprios exemplos de Manchu.
Dior Battaglia, Cardeal Sabá
Malkavian Antitribu 6ª Geração
Guru/ Arquiteto
CONHECENDO UM MANCHU
Você chegou até aqui, recruta.
Está na hora de me apresentar. Com a devida autorização de meu mentor, me apresentarei. Aliás, não só a mim, mas minhas alter personas. Me chamo Donatella Caputo, sou italiana, abraçada em 1850.
Sou do clã da lua, uma lunática, Malkavian Antitribu pra você. Pertenço à Espada de Caim antes mesmo de entender essa situação toda de seitas. Quem me abraçou não é meu programador. Se dependesse dele e de seu ego, eu sequer estaria viva.
Fui escolhida por meu mentor, Dior Battaglia para dar segmento em seus planos após salvar sua vida e me mostrar totalmente fiel à seita. Permito que ele reprograme minhas memórias a seu bel prazer, Dior jamais me colocaria em risco iminente. Ele sabe do meu potencial e minhas capacidades. Sou a peça de seu jogo , e Dior não joga para perder suas peças, muito menos perder o jogo.
Sou um Manchu do Sabá.
Obviamente passar por esse processo de reprogramação pode ser diferente para cada cainita. Dependerá de seu programador e sua missão. Comigo, infelizmente ou felizmente carrego fragmentos dessas personalidades e memórias. Às vezes, Dior permite, como agora, que eu as acesse. Que eu tenha real noção das minhas habilidades e coisas que já fiz em prol da Seita. A personalidade mais marcante acredito que seja do período em que atuei diretamente na Camarilla de Los Angeles, me chamava Kim Carter.
Acreditando ser criança da noite, fui localizada pela seita e aprendi as tradições. Não só as tradições, mas a lidar com a jyhad. Talvez lidar com a jyhad fosse vestígio de minha personalidade padrão deixada de propósito por Dior. De recém chegada, pacientemente tirando peças adversárias do jogo, me tornei braço direito do príncipe da Camarilla. Juntos atentamos contra nossa própria primigênie. Obviamente, isso não foi da noite para noite. Foram longos anos até varrer oponentes em potencial. Dior é extremamente paciente. Cada peça, dali em diante, caía por si só.
Depois do feito, retornei para o Sabá.
No Sabá, ainda na alter persona Kim Carter, acreditava estar sendo recrutada. Passei por todo o processo que os novatos passam, vocês sabem a que me refiro. Ser iniciado no Sabá é um filtro onde os mais fortes e determinados ficam. Separamos o joio do trigo. Depois de um tempo afastada e prestando pequenos serviços para a Seita, tal qual uma novata, fui reprogramada novamente. Dessa vez, uma jogada de mestre que Dior fez me colocando na hora certa e no lugar certo, diante dos anarquistas de Sacramento, na Califórnia. Vivi anos com eles, possuía outra aparência, outras memórias, outro nome. Na ocasião, Allegra Coleman.
Como Allegra, atuei com os anarquistas retornando para Los Angeles. Todo o caos que havíamos propagado anos antes, desencadearam a retirada da Camarilla e a instauração dos baronatos anarquistas. Os conhecia de perto, partilhava de seus ideais e participava de seus conluios. Novamente, fui a mão que facilitou a derrubada de cada peça. Uma a uma. Até finalmente não restar o último líder anarquista, um fugitivo da Espada de Caim.
Depois do feito, retomamos a cidade. Me tornei Bispo, mas abri mão do posto para interesses mais profundos, os quais ainda não posso mencionar. Em meu lugar, ficou a ex Ductus de um bando a qual pertenci, líder promissora. A cidade está em ótimas mãos.
Agora a pior parte, o ônus de tudo isso.
No meu caso, as memórias muitas vezes me causam mal estar. Crises terríveis. Antigos vícios, antigas lembranças de desafetos e aliados às vezes surgem nas horas mais inoportunas. Já ocorreu de eu contar as noites para ser reprogramada novamente, pois conviver com todas essas memórias não é algo para se orgulhar e permanecer tranquilo ou mentalmente equilibrado. Mas me permito, as glórias e feitos são inestimáveis, a Espada de Caim é minha redenção, dou minha não vida em proveito da seita.
Malkavian Antitribu 7ª Geração.
Fanático/Penitente - Fanático/Camaleão
REFERÊNCIAS EXTERNAS
Bem, poderiam ser citadas diversas referências sobre programação mental e teorias envolvendo essa técnica controversa e de fins duvidosos. Um dos casos mais famosos e que inspiraram o livro The Search of Manchurian Candidate de John D. Marks e inúmeras teorias conspiratórias, foi o suicídio de Frank Olson, cientista e então funcionário da CIA.
Outros casos envolvendo supostos Manchu na morte de personalidades como Robert Kennedy, também não são difíceis de encontrar matérias. Entretanto, a que foi documentada e teve esse conteúdo divulgado, abrindo precedentes para essas teorias foi o caso de Frank Olson. Sabe-se que o serviço de inteligência americano por muito tempo buscou técnicas de controle mental, diversas instituições americanas fomentavam e contribuíam para essas pesquisas. Agora você, leitor, imagine utilizar dessa ferramenta com o diferencial das disciplinas vampíricas?
Vale lembrar que todo o conteúdo aqui postado está presente no material oficial de Vampiro: A Máscara e essas referências em livros e conteúdos na web. Acerca do Manchu, você encontra conteúdo na página 201 do Guia do Sabá 3ª edição e a respeito da Vaulderie nesses casos, na página 203 do respectivo suplemento.
Lembre-se que esse exemplo pode muito bem ser utilizado sendo você narrador ou jogador.
Nota da Autora : A utilização desse personagem onde a mesa seja estritamente Camarilla, em comum acordo com o Narrador, o prognóstico é que surjam cenas memoráveis e que podem tão bem colorir a história.
Use e abuse da sua imaginação... Bem vindo à Espada de Caim!
Escrito por Alessa Malkavian e Jay Obertus
0 Comentários